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David vive!


David Capistrano se foi... É a mensagem que recebo nesta manhã de domingo.Não quero ver seu corpo levado ao túmulo naquela cidade de Santos, pouco capaz de compreendê-lo.

Compreender este cara deve ser ofício reservado aos amigos, mesmo quando o vemos em grandes cenários e não apenas na moldura de nossa amizade, como personagem da cena sanitária e política deste país, na sua maneira quixotesca ou, quem sabe, brechtiana, de quem formulou projetos que foram seguidos por nós e por muitos outros - epitáfio que nos honraria a todos.

Mas como pode ter morrido este sujeito imprescindível?

Morre, de verdade, quem fez tantas coisas, pensou com tal potência e ainda esteve em tantos lugares? Seja no Recife, no Rio, em Bauru, em Santos, em São Paulo, em Brasília... Esta trajetória, por si só, diz bem da dimensão de um lutador notável.

Como pode ter morrido quem incomodou tanto a alguns? Quem teve tantas idéias? Quem dedicou sua vida à causa de todos? Como acreditar que pode ter morrido quem não sucumbiu nem nos cárceres da ditadura, nem do câncer? Não seria uma insuficiência hepática que iria derrotá-lo...

E no entanto, David vive!

Não será difícil dar com ele por aí, nas quebradas desse grande Brasil. Vamos procurá-lo nas ruas de Recife e do Rio, no movimento estudantil, nos embates das esquerdas, nas docas santistas, na administração pública e no debate político de sempre, na gestão do SUS, no CONASEMS, no Qualis, nas Casas de Parto e nos tantos projetos que este andarilho encarou e levou à frente, sem arroubos, talvez sem ilusões, mas sempre com a visão larga e o compromisso de quem planta jequitibás.

Para homenageá-lo nesta etapa, mais uma de sua vida atribulada e plural, lembro Drummond, quando falou de Charles Chaplin: ó David, meu e nosso amigo, sua palavra e seu exemplo caminham por uma estrada de pó e de esperança.

E é por este caminho que seguimos com você, pequeno-grande companheiro!



DAVID VIVE. VIVA DAVID!

Flavio Goulart / Brasilia