Sábado, 20 de Abril de 2024 Pesquisa no site
 
A OBORÉ
  Abertura
  Histórico
  Missão
  Frentes de Trabalho
  Parceiros
  Prêmios
  Fale Conosco
  Galeria de Fotos
Núcleo de Rádio
Núcleo de Cursos
Núcleo de Gestão da Informação
Notícias
Atividades Especiais
  Políticas públicas relacionadas aos idosos: um desafio para o Brasil dos próximos 30 anos
por Lígia Ximenes
  09/12/2010

O Brasil que chegará ao ano de 2040 com a maior parte de sua população na faixa dos 50 ou mais anos de idade tem um grande desafio para os próximos anos: construir políticas públicas que assegurem qualidade de vida a esta parcela da população. E isto considerando não somente as questões de saúde, mas também de alimentação, trabalho e renda, seguridade social, moradia, meio ambiente, transporte, cultura e lazer. 

Para construir uma agenda e organizar uma prática que possa ser transferida e transportada para a formação de pessoas e para a administração pública, especialistas de diversas áreas reuniram-se no dia 24 de novembro em encontro promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), em parceria com o Núcleo de Ensino e Pesquisa do Grupo MAIS  - Modelo de Atenção Integral à Saúde, que reúne empresas como Hospital Premier, São Paulo Internações Domiciliares e Proativa Saúde. 

O segundo debate de uma série de 12 encontros do ciclo “Idosos do Brasil: Estado da Arte e Desafios” contou com a presença de Solange Kanso, da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e de José Luiz Riani Filho, médico, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) em Rio Claro (SP), além do médico David Braga Júnior, coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas do Grupo MAIS.  

“São 5.645 cidades do Brasil que precisam se organizar para atender à população”, lembrou David Braga, coordenador da mesa, destacando aos participantes a necessidade de que sejam feitos investimentos não somente de recursos financeiros, mas também de conhecimento e a reorganização de estruturas.

O debate, contextualizou David Braga, parte do princípio de que o tempo age contra a autonomia e a independência das pessoas a partir dos 60 anos. “O tempo continua o mesmo. No entanto, a partir dos 70 anos, a velocidade da fragilização aumenta muito. No intervalo entre a independência total, os fatores de ordem social e biológica permitem que o indivíduo permaneça independente por mais tempo”. 

Sobre a dependência, aliás, alguns números trazidos por Solange Kanso: em 2008, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 15,2% dos idosos não eram capazes de realizar, sem ajuda, atividades diárias como comer ou ir ao banheiro. Além disso, 70% não estavam no mercado de trabalho e 76,9% recebiam benefícios de seguridade social. Entretanto, aproximadamente 21% dos lares brasileiros ainda eram mantidos por idosos, e entre os que dividiam suas casas com filhos (42,9%) ou netos (15,8%), sua contribuição era a responsável por 54,8% do orçamento familiar.

“A renda do idoso não apenas contribui, mas é fundamental em boa parte dos lares. Ela garante o apoio para filhos e netos que se casam mais tarde, saem mais tarde, se separam, retornam com os netos, que tem dificuldades em arrumar o primeiro emprego”, explicou a pesquisadora do IPEA. A contribuição dos benefícios é ilustrada por outro indicador, o que considera a proporção da população pobre, por faixa etária e sexo, desconsiderados estes rendimentos. Na faixa de 20 a 50 anos, ela corresponde a aproximadamente 30% do total da população, mas se eleva conforme aumenta a idade de cada grupo, atingindo a casa dos 70% entre os idosos que tem mais de 75 anos.

Neste sentido, avançou Riani, as políticas assistencialistas tem feito a diferença. “O benefício de prestação continuada, por exemplo, é muito criticado, mas fundamental e um resgate de direitos. Ou vai dizer que quem nunca teve registro da Previdência Social não construiu esse País só por nunca ter contribuído?”, questionou.

A saúde do idoso

Embora nos últimos 30 anos o Brasil tenha registrado um incremento significativo na esperança de vida, verifica-se entre os idosos uma maior prevalência de doenças crônico-degenerativas, como hipertensão, coronopatias, diabetes e enfermidades neuropsiquiátricas, dentre as quais depressão, Alzheimer e Parkinson, que exigem uma atenção integral a esta parcela da população. 

Riani lembrou que, além de fatores genéticos e ambientais, também questões de ordem ocupacional determinam a qualidade e a velocidade do envelhecimento. “Lanço, aliás, uma proposta: um projeto para encontrar doenças ocupacionais na população aposentada. Nós vamos encontrar câncer ocupacional, doenças respiratórias, osteomusculares, hepáticas, neurológicas, porque estas pessoas se aposentam e quando vão ao médico informam que sua profissão é aposentado”.

O médico falou ainda sobre para a parcela de idosos que desenvolvem um projeto-doença para voltar à agenda da família e da sociedade. “Tem a consulta, e o retorno da consulta, e os exames, e tem que buscar os resultados dos exames, e tem que tomar remédio. E nem que seja para alguém brigar porque não tomou o remédio, pelo menos alguém falou com ele”.

Neste sentido, importante destacar que a organização dos serviços de saúde e o controle das doenças crônicas tem o poder de retardar e até mesmo postergar a escala de envelhecimento. “ É neste nível que vamos refletir: como as instituições podem apoiar iniciativas que permitam a manutenção da autonomia dos idosos para fazerem o que desejam, gostam e podem. Para que isso ocorra, a abordagem desses problemas deve ser encarada de forma interdisciplinar”, explicou David Braga.

As instituições de longa permanência

Embora a legislação brasileira atribua à família o cuidado com os idosos, é sobre a mulher, a principal cuidadora, que recai esta responsabilidade. Quando a esta mulher trabalha fora, muitas vezes é necessário delegar este cuidado a outras instituições e em muitos casos recorre-se às instituições de longa permanência. 

Para desvendar a natureza das instituições em funcionamento no País, o IPEA realizou entre 2006 e 2009 um levantamento com 3.548 serviços que atendem a 100 mil pessoas, dos quais 12% tem menos de 60 anos. A investigação, afirmou Solange, constatou que os estabelecimentos, concentrados em apenas 29% dos municípios do País, estão com 90% de seus leitos ocupados. 

Historicamente, lembra Solange Kanso, as instituições de longa permanência são vistas como lugares de exclusão, dominação, isolamento e até mesmo um lugar para morrer. Além disso, para as famílias, a internação de seus idosos é encarada como abandono. “O cuidado com os idosos está sendo transferido para outras esferas, em função de mudanças nos arranjos familiares e da ausência de um sistema formal de suporte que incorpore a família à comunidade”, completa.

Políticas públicas: modo de fazer

Não só pelo seu crescimento frente a outros grupos populacionais, mas também pela sua fragilidade, a população idosa carece de atenção especial. É neste sentido, afirma o médico José Luiz Riani Costa, que se justifica a necessidade de um conjunto de políticas públicas específicas para assegurar alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, trabalho e renda para esta parcela da população.    

O Brasil, destaca Riani, tem como referência o Estatuto do Idoso (Lei 10.741 de 1 de outubro de 2003), que assegura todas as oportunidades e facilidades para a preservação de sua saúde física e mental, aperfeiçoamento intelectual, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. “Este é um bom horizonte para a gente pensar em políticas públicas”.

Um dos principais desafios, neste sentido, é a inclusão dos idosos na vida da cidade. “O alcance da política tem que ser o CEP de cada indivíduo, no endereço das pessoas. Tem bairros da cidade em que mais de 50% da população é idosa. Há uma intersecção de espaços que precisam ser reinterpretados”, reforça David Braga. 

Neste sentido, destaca-se a experiência de Riani no processo de formulação da Política do Idoso em Rio Claro (SP), que em 2004 culminou na aprovação da Lei 3.498. Atualmente, além de orientar estruturas como a do Programa Saúde da Família para o atendimento a esta parcela da população, o município também conta com uma rede estruturada de Centros de Referência e também se ocupa  em construir materiais específicos para os cuidadores. 

“Temos pensado muito nas ações que podem tirar o idoso dessa condição de estrangeiro em sua própria cidade. Por exemplo, promover um resgate da memória que estas pessoas tem sobre o lugar em que vivem. E também em como descentralizar as atividades. Uma prioridade é assegurar o atendimento não-asilar, por meio dos Centros de Convivência e Centros-Dia”.

Para construir uma política municipal, é importante que se identifique o perfil de quem frequenta e não frequenta os espaços públicos e os programas. Afinal de contas, há uma população idosa oculta, desconhecida, por medos, falta de companhia, localização dos equipamentos, disponibilidade do acesso ao transporte público. Outra necessidade, destacou Riani, é que se construam as leis de acordo com a realidade a que se referem, com a participação do conselho e a realização de conferência municipal.

No que se refere a financiamento, outro ponto tocado pelos especialistas foi a origem dos recursos financeiros necessários. “Por que não criar linhas de financiamento para desenvolver macropolíticas que beneficiem a população idosa? Se o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) financia até pousada! Criar uma linha de financiamento para estas ações é algo factível com realidade do nosso país”, destacou David Braga.

Mais sobre o ciclo de debates

Criada por meio de parceria entre o Centro de Ensino e Pesquisa do Grupo MAIS e o Instituto de Estudos Avançados da USP, a série “Idosos do Brasil: Estado da Arte e Desafios” é composta por 12 mesas redondas em torno da qual se articulam especialistas interessados em contribuir para a construção de uma atenção contínua e eficaz para saúde e o bem-estar da população idosa.

Sergio Gomes, diretor da OBORÉ, uma das entidades articuladoras e apoiadoras do ciclo, explica que este é um projeto cuja construção já começa coletiva, reunindo representantes do Grupo MAIS e profissionais oriundos de diversas instâncias do poder público, e que pretende construir uma agenda propositiva para a atenção à pessoa idosa.

“Depois desta etapa, que deve durar até agosto de 2011, partimos para o desafio que é construir uma agenda que melhore a qualidade de vida dos idosos, levando em conta o paradigma da capacidade funcional que sustenta a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa: como manter as condições de independência e como evitar as condições de fragilidade para esta faixa populacional?”, esclarece David Braga.

PARA SABER MAIS

Textos de referência

• Legislação


Constituição Federal

 Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (Portaria 2.528 de 19 de outubro de 2006)

Estatuto do Idoso

• Características das Instituições de Longa Permanência para Idosos

Região Norte

Região Nordeste

Região Sul

Região Centro-Oeste

• Instituições realizadoras

Instituto de Estudos Avançados da USP

Grupo MAIS 
 
OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes

• IBGE - CENSO 2010

Brasil – pirâmide etária por sexo (Censo 2010)

VEJA TAMBÉM

Ciclo de Debates "
Idosos do Brasil: estado da arte e desafios"

Saúde do Idoso: referenciais legais (1ª mesa redonda)

Políticas públicas relacionadas à saúde do idoso (2ª mesa redonda) 

Uma idosa pede passagem

Vila Cordeiro pede passagem: quer se transformar em mais um bairro amigo do idoso


GALERIA DE FOTOS

 
 
 
   
  » Indique essa página a um amigo
 
 
 
Avenida Paulista, 2300 | Andar Pilotis | Edifício São Luis Gonzaga | 01310-300
São Paulo | SP | Brasil | 55 11 2847.4567 | (11) 99320.0068 |
obore@obore.com

Desenvolvimento

KBR Tec - Soluções Online