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  Módulo Amazônia expõe complexidade dos diversos conflitos da região
Texto: Giulia Afiune Fotos: Nivaldo Silva
  04/07/2012

“Nove países, 7 milhões de km2, 1/20 da superfície terrestre, 2/5 da América do Sul, 1/5 da água doce do planeta, 1/3 das florestas, 3 fusos, 2 hemisférios.” Foi assim que o geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira dimensionou a Amazônia na última aula do 6º Curso Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter, no dia 23 de junho. Durante dois meses, 25 jovens estudantes de Jornalismo de 11 diferentes faculdades se reuniram nas manhãs de sábado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) para conhecer um pouco melhor o universo chamado Amazônia. Promovidas pela OBORÉ, ABRAJI e IEA/USP no âmbito do Projeto Repórter do Futuro, as onze aulas do módulo deram conta de temas diversos com mudançasclimáticas, conflitos agrários, direitos indígenas e atuação do Exército, além de assuntos atuais, como a usina hidrelétrica de Belo Monte, o novo Código Florestal e a Rio+20. 

Na Aula Magna que marcou o início do curso, no dia 28 de abril, o Professor Manoel Carlos Chaparro, livre docente pela ECA-USP e ganhador de dois Prêmios Esso de Jornalismo, fez um panorama da atual situação do Jornalismo com o advento das “novas mídias”. E aproveitou para orientar os jovens repórteres em relação ao trabalho que teriam pela frente: “A boa reportagem narra conflitos, aquilo que tem um potencial de transformar a sociedade”, instruiu. Elementos para uma boa matéria não faltaram nas aulas seguintes. Acompanhe aqui a cobertura completa do módulo. 

A cada aula, uma descoberta 

No dia 5 de maio, o jornalista Pedro Ortiz, coordenador do módulo e repórter especializado na cobertura de temas ambientais, fez um painel sobre os principais problemas que a região amazônica enfrenta hoje. Água, energia, políticas de preservação, demarcação de terras indígenas, biopirataria e o novo Código Florestal foram algumas pautas indicadas por Ortiz aos jovens jornalistas. “Já está mais do que provado que a floresta em pé é mais rentável que no chão”, afirmou, ao comentar o rascunho do novo Código Florestal que havia sido aprovado pelo Congresso. O texto diminuía de 80% para 20% as áreas de Reserva Legal nas propriedades na região da Amazônia, ponto que foi excluído pela Presidente Dilma posteriormente.  

Na semana seguinte, o arqueólogo Eduardo Góes Neves e o físico Paulo Artaxo discutiram os conflitos entre desenvolvimento e preservação ambiental e cultural. Para Neves, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), o patrimônio arqueológico da Amazônia é ameaçado tanto pela venda das peças, muito valorizadas no mercado negro, como pelas grandes construções. “O ritmo de construção de usinas hidrelétricas é muito rápido e a demanda é muito grande. Atualmente são 70 barragens previstas para serem construídas na Amazônia. O medo é que não dê tempo de entender bem esse patrimônio antes dele ser destruído”, revelou o arqueólogo.


Artaxo, que es
tá há mais de 20 anos à frente do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, o LBA, vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Ambientais (INPA), também destacou o potencial destrutivo das usinas hidrelétricas. “Pra começar, você retira do local a floresta, que absorve carbono, e coloca uma represa, que libera carbono”, explicou. Contudo, o físico reconheceu que não há alternativas para a geração de energia na região. 

A questão agrária foi central no quarto encontro, dia 19 de maio. A geógrafa e livre docente pela USP Neli Aparecida Mello-Théry defendeu que o modelo de distribuição de terras na Amazônia facilitou a ocupação por grandes latifundiários, prejudicando os pequenos produtores. “O Brasil fez uma anti-Reforma Agrária nos anos 1960”, argumentou. Segundo ela, essa situação perdura, a exemplo da pressão dos ruralistas para aprovar o novo Código Florestal cujo objetivo seria estender as plantações de soja para o território amazônico. “Nós vamos querer continuar sendo o celeiro do mundo, acabando com nossa biodiversidade para produzir commodities? Dá pra cultivar soja em locais de plantações antigas, recuperando o terreno e ganhando um certificado verde por isso, o que é muito valorizado hoje em dia”, informou. 

Os interesses dos latifundiários na Amazônia voltaram a ser discutidos no dia 26 de maio, na conferência da antropóloga Betty Mindlin. Com a Proposta de Emenda Constitucional 215, em tramitação no Congresso, a demarcação das terras indígenas passaria a ser responsabilidade do Congresso, onde há forte influência da bancada ruralista. Contudo, a professora mostrou que a PEC 215 fere a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela ONU em 2007, que exige o “consentimento livre, prévio e informado” dos indígenas sobre qualquer interferência em suas terras. “Os índios e seus direitos têm que entrar no cálculo econômico”, defendeu Betty. 

No mesmo dia, o General do Exército Brasileiro Mário Ramos Antunes, ex-membro do Comando Militar da Amazônia (CMA), destacou as dificuldades que o Exército tem ao patrulhar as fronteiras nacionais. O patrulhamento é necessário para evitar o tráfico de drogas e o contrabando, por exemplo. A extensão é o primeiro obstáculo: 11 mil km, 73% do total das fronteiras, devem ser acompanhados pelo CMA. A permeabilidade é outro. “Como as fronteiras passam no meio de Unidades de Conservação, selvas, rios, montanhas e cidades, é muito fácil passar por elas, o que torna o controle muito difícil”, assinalou o militar. 

Na oitava conferência do módulo, no dia 2 de junho, o geógrafo Wagner Costa Ribeiro defendeu que enquanto a Economia de Baixo Carbono não virar uma oportunidade dos proprietários ganharem dinheiro, as questões ambientas não serão resolvidas. “Não é o ideal, mas o mundo é capitalista”, justificou o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP – PROCAM.  Para ele, a Amazônia possui características que podem se converter em rentabilidade sem degradar o meio ambiente. “A biodiversidade amazônica é um grande acervo de informação genética que pode levar à descoberta de novas substâncias e materiais renováveis. Ela deveria ser um grande laboratório, um verdadeiro pólo científico”, considerou. 

O engenheiro agrônomo Paulo Kageyama, professor do Departamento de Ciências Florestais (ESALQ-USP), também falou sobre o patrimônio biológico da Amazônia, na nona conferência de imprensa, dia 16 de junho. Segundo ele, há dois anos foi criado um projeto de lei nacional de acesso ao material genético e seus produtos, aos conhecimentos tradicionais associados e repartição de benefício. Discutido no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – Ministério do Meio Ambiente (CGEN/MMA) o projeto ainda está em tramitação na Casa Civil. “Deveríamos ter uma lei que garantisse o acesso aos recursos genéticos e partição justa e equitativa de benefícios, mas não temos”, afirma o pesquisador.

Em seguida, nova conferência. Desta vez com o Prof. Marcos Buckeridge, do Departamento de Botânica (IB-USP), que abordou temas como mudanças climáticas, produção e consumo de energia e alimentos, ciclo do Carbono e efeito estufa. Sobre as alterações climáticas, Buckeridge destaca que há vários estudos do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) que comprovam o aumento de temperatura da terra. “Há várias maneiras de fazer estas pesquisas, uma delas é medir o ar nas amostras de gelo da Antártida, e também a alteração nos níveis dos oceanos”, afirma o pesquisador. Sobre o desaparecimento de muitas espécies e formação de diferentes biomas, ele explica que as mudanças climáticas pela ação do homem são apenas um dos fatores. “A cada 100 mil anos temos reduções drásticas de temperatura no planeta que são decorrentes dos movimentos da terra, isto faz com que aconteça uma faxina no planeta”, diz Buckeridge.

Para solucionar os problemas ambientais, a Economia Verde não é a melhor opção, afirmou o geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira no encerramento do 6º curso. A última aula aconteceu no dia 23 junho, na mesma semana da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que reuniu representantes do mundo inteiro para discutir a transição para uma economia baseada na sustentabilidade. “O ‘Capitalismo Verde’ é impossível, porque é da índole do Capitalismo destruir. Se hoje, com uma minoria tendo acesso a esse padrão de consumo já destruímos o meio ambiente, quando ele for acessível à humanidade toda, o planeta sucumbirá”, alertou. Para Ariovaldo, um claro exemplo disso são as usinas hidrelétricas. Apesar de serem apresentadas pelo governo brasileiro como uma fonte limpa e renovável que corresponde a 70% da matriz energética do país, o geógrafo afirma que elas causam destruição e ameaçam os cenários naturais. “E essa energia é para os amazônidas? Não, é para o Sudeste poder sustentar o padrão de vida que poucas pessoas têm.” 

Transmissão pela internet 

Estudantes de todo o Brasil puderam acompanhar, em tempo real, as palestras e entrevistas através da página web do IEA graças a essa parceria e cooperação entre o Instituto de Estudos Avançados e a TV USP. 


Confira abaixo a retrospectiva do 6º curso Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter e visite o site-laboratório para a cobertura completa do módulo feita pelos estudantes.
   


Ariovaldo Umbelino (esq), estudantes, colaboradores e Coordenação Pedagógica na última aula do módulo sobre a Amazônia.

PROJETO REPÓRTER DO FUTURO 
CURSOS DE COMPLEMENTAÇÃO UNIVERSITÁRIA 

 MÓDULO “DESCOBRIR A AMAZÔNIA, DESCOBRIR-SE REPÓRTER”

6ª edição – 2012

Programação


Dia 28/04 – Aula Magna

9h às 11h – Prof. Dr. Manuel Carlos Chaparro (ECA-USP) - podcast

Dia 05/05 – Abertura
9h 'as 13h - Prof. Pedro Ortiz (Coordenação do Repórter do Futuro) - vídeo

Dia 12/05
9h às 11h – Prof. Eduardo Goes Neves (MAE-USP) - vídeo
11h às 13h – Prof. Paulo Artaxo (IFUSP) - vídeo

Dia 19/05
9h às 12h – Profa. Neli Aparecida de Mello-Théry (EACH e IEA-USP) - vídeo e áudio

Dia 26/05
9h às 11h – General Antunes (Exército Brasileiro, ex-CMA)- vídeo
11h às 13h – Profª. Betty Mindlin (PUC e IEA-USP)

Dia 02/06
9h às 12h – Prof. Wagner Costa Ribeiro (IEA e PROCAM-USP) - vídeo

Dia 16/06
9h às 11h - Prof. Marcos Buckeridge (IB-USP)
11h às 13h - Prof. Paulo Kageyama (ESALQ-USP)

Dia 23/6

9h às 11h - Prof. Ariovaldo Umbelino de Oliveira (FFLCH-USP)  

 
Entidades promotoras:

Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo – IEA/USP

Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo - Abraji

OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações  e Artes

TV USP /Canal Universitário de São Paulo 

Apoiadores:    

CCOMSEx – Centro de Comunicação Social do Exército
CCOMSAer – Centro de Comunicação Social da Aeronáutica

SINPRO/SP – Sindicato dos Professores de São Paulo
Cátedra UNESCO de Comunicação
TV Aberta / Canal Comunitário de São Paulo
Matilha Cultural
Premier / Grupo MAIS – Modelo de Atenção Integral à Saúde
NH Photos

Coordenação dos cursos de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM, Faculdade Cásper Líbero, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, Universidade Metodista de São Paulo e Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Projeto Repórter do Futuro 

Oferecido a cada semestre para, no máximo, 25 alunos por turma, o Repórter do Futuro é uma das três frentes do Núcleo de Cursos da OBORÉ, ao lado de “Capacitação de Comunicadores” (voltado a comunicadores populares) e “Capacitação de Profissionais” (promovendo encontros e palestras para profissionais em geral). Os cursos são gratuitos e, para realizá-los, a OBORÉ faz parcerias com instituições que acreditam na importância desta proposta. Com as parceiras, é modulado o conteúdo do curso, com temáticas relevantes para a formação de profissionais da comunicação. 

Nestes 17 anos, o Repórter do Futuro desenvolveu uma metodologia própria através de Conferências de Imprensa seguidas de Entrevistas Coletivas. Ao final, há sempre a proposta de produção jornalística (impressa, radiofônica, televisiva ou multimídia), com foco na prática reflexiva de cada participante – e não simplesmente na aplicação de técnicas. 

Para medir o empenho real de cada participante, o  projeto considera o critério da “Reembolsa”: os alunos se comprometem a pagar o curso no valor de um salário mínimo ao se inscreverem. No entanto, se assistirem a todas as aulas, produzirem todas as matérias solicitadas, realizarem um atendimento individual com a coordenação pedagógica e conseguirem publicar  ao menos uma das reportagens em qualquer veículo de comunicação que tenha um editor responsável, recebem o dinheiro de volta. 


Importante destacar que a equipe de coordenação do projeto e os alunos que participam dos diferentes módulos se uniram no desenvolvimento e gerenciamento de um site-laboratório de internet, concebido como um espaço jornalístico colaborativo e multimídia para reportagens produzidas ao longo dos diversos módulos do PRF. 

Na última década, a média de inscrições nos cursos tem sido de 200 estudantes por módulo – disputando 25 vagas. Invariavelmente, as Reembolsas efetuadas superam 90%.  Nos dois últimos módulos oferecidos em 2011, chegou a 100%.

Contando com o apoio das coordenações pedagógicas das principais universidades e faculdades de jornalismo da cidade de São Paulo, de organizações expressivas da sociedade civil, de profissionais de ponta do jornalismo e a participação de lideranças comunitárias, gestores públicos, autoridades e personalidades da vida social, o Repórter do Futuro vem se diversificando e oferecendo a estudantes das melhores Universidades e Faculdades de São Paulo oportunidades de complementação na sua formação humanística e profissional com a combinação de teoria e prática em uma atividade essencial ao exercício do jornalismo pleno: a reportagem. Em seus 17 anos de vida, contribuiu com a formação de cerca de 700 jovens, todos estudantes do 1º ao 4º anos de jornalismo. 

Sobre os cursos 

 

Na última década, o Repórter do Futuro ofereceu vários módulos de cursos. "Descobrir-se São Paulo, Descobrir-se Repórter", lançado em 2004, foi aperfeiçoado e, no primeiro semestre de 2012, em parceria com a Câmara Municipal de São Paulo, ofereceu um curso que abordou os principais problemas e desafios da cidade de São Paulo para a próxima década nas áreas de Saúde, Educação, Transporte, Gestão Pública e Cidadania, Trabalho e Emprego, Economia, Cultura. 

SAIBA MAIS: 

Cobertura do 6º Curso Descobrir São Paulo, descobrir-se Repórter  


Em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no Brasil, desde 2001 é realizado anualmente o módulo "Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência".  O curso aborda aspectos do Direito Internacional Humanitário, ou Direito Internacional dos Conflitos Armados, úteis para o trabalho da imprensa, além de apresentar o perfil da ação humanitária do CICV em quase 80 países e discutir questões éticas, técnicas e jurídicas ligadas ao trabalho do jornalista em missão profissional perigosa.

Em todo mundo, o CICV promove cursos, seminários e palestras como forma de aumentar o conhecimento e o respeito às normas internacionais que regem a condução de hostilidades e apresentar o perfil neutro, imparcial e independente de sua ação humanitária em favor das vítimas dos conflitos armados e outras situações de violência e catástrofes. No Brasil, onde a organização mantém presença permanente desde 1991, este trabalho é feito com  membros das forças armadas, policiais, autoridades e acadêmicos.

SAIBA MAIS:

Cobertura do 9º Curso
Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência 

Inscrições para o 11º Curso
Jornalismo em Situações de Conflito Armado e Outras Situações de Violência
            

O módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter” já teve seis edições, de 2007 a 2012, acompanhadas por viagens de estudo à Amazônia de grupos de estudantes e professores/profissionais de jornalismo, em parceria com o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira. Como nos anos anteriores, os participantes da viagem são selecionados durante o módulo, entre os 25 estudantes de jornalismo. A viagem de 2012 acontecerá no mês de julho, e terá a cobertura feita pelos estudantes publicada no site-laboratório. 

SAIBA MAIS:

Encontro de realizações e perspectivas sobre os módulos de 2007 a 2010 

Cobertura da 5ª Viagem de Estudos e Reportagens da Amazônia, realizada em 2011


MAIS INFORMAÇÕES
tel. 11. 3214.3766
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www.obore.com

 
 
 
   
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