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  Estudantes descrevem a aula inaugural do Projeto Repórter do Futuro.
Vanessa Pipinis
  12/05/2006

Sempre é possível escrever melhor. A avaliação é do professor Manoel Carlos Chaparro, um dos coordenadores do Projeto Repórter do Futuro, ao inaugurar o módulo Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter no último dia 6 de maio.

O exercício semanal da redação, um dos critérios da Reembolsa, é elemento relevante na “descoberta do repórter” a que os participantes do projeto se propõem. Os estudantes Mariana de Castro Morais, Ana Carolina Moreno e Diego Junqueira produziram seus primeiros textos sobre essa experiência. Acompanhe a íntegra desse material. 

                                 "O futuro é agora.

Por Ana Carolina Moreno

´ É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença´.

No primeiro encontro da nova turma de repórteres do futuro da Oboré, quem deu o tom dos trabalhos foi André Azevedo de Fonseca, que motivou os vinte participantes com sua experiência como estudante de jornalismo em Uberaba. Lá, ávido por contar histórias, esboçou seu destino, mergulhando nas esquinas, nos livros, nos mitos, no passado, no presente e no futuro, produziu uma série de reportagens sobre a cidade mineira para o jornal-laboratório da faculdade.

Depois de se tornar, ele próprio, um repórter do futuro, inspirou-se nas palavras de incentivo dos coordenadores do projeto da ONG e decidiu publicar um livro com as reportagens que havia produzido. Seus esforços em conseguir o apoio da faculdade para o seu plano foram incansáveis e admirados pelos presentes, que, em silêncio, absorviam todos os detalhes da história e, finalmente, com "Cotidianos culturais e outras histórias", o produto final da jornada de André nas mãos, vislumbravam seu sonho à sua frente, agora um passo mais próximo.

Curiosamente, André foi o único que não viu isso acontecer. Ele estava longe do décimo andar do número 454 da rua Rego Freitas, a muitos quilômetros da Vila Buarque, no centro de São Paulo. A história acima, que ele enviou por e-mail, foi lida pelos jovens estudantes ou recém-formados em jornalismo, e transformou-se não só em exemplo de um jornalista, mas também em um modelo de história real e que emociona, o tipo de história que os repórteres sempre procuram.

´É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.´

O Projeto Repórter do Futuro existe desde 1994, batizado então como Projeto Repórter 2000, e, anualmente, seleciona 20 estudantes de jornalismo, ou recém-formados, para participar dos encontros semanais do curso, onde os jovens assistem a palestras e tomam parte em entrevistas coletivas com especialistas convidados. Em 2006, o módulo tem como tema "Descobrir São Paulo, descobrir-se repórter", e as reuniões tratarão dos assuntos eleitos por estudantes de jornalismo de diversas faculdades: exclusão social, transportes, segurança e saúde pública. As autoridades convidadas para a edição atual do projeto, que teve início em 6 de maio e ocorrerá todos os sábados, até 17 de junho, são Ricardo Amorim, Frederico Bussinger, Elci Pimenta, Tenente Arruda, Adib Jatene e Caco Barcellos.

Além dos encontros semanais, cada participantes deverá escrever um texto sobre a reunião anterior e, até 30 de junho, ter um de seus textos publicados por um veículo jornalístico com editor. "É uma maneira de iniciar a transição de estar largado por aí a possivelmente conseguir um emprego", explica Sérgio Gomes, diretor da Oboré.

Neste ano, mais de 500 jovens de 16 estados brasileiros se inscreveram para o projeto, e 170 compareceram ao primeiro encontro, em 1º de abril. A próxima etapa do processo de seleção foi a produção de um texto jornalístico sobre os acontecimentos desse dia, tarefa esta cumprida por 125 candidatos. Enfim, uma banca foi responsável pela leitura dos textos e pela seleção dos 20 finalistas, que vêm de oito faculdades, cursando do primeiro ao último semestre, e incluindo dois recém-formados.

´Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.´

As três horas do primeiro encontro do projeto foram divididas em três partes – não necessariamente iguais: "De onde vim?", "Onde estou?" e "Para onde vou?" Após a abertura oficial, as orientações iniciais e as apresentações, o grupo assistiu ao documentário "Vila Buarque - Um ponto de cultura" e, então, escutaram um breve mas contundente discurso de Manoel Carlos Chaparro – este, sim, estava presente –, livre docente da USP e um dos coordenadores do módulo.

O professor Chaparro iniciou sua fala enumerando as limitações da profissão. "O jornalista tem a função de narrar o que os outros dizem e fazem. Se ninguém fizer nada, nós não temos o que fazer", explicou, acrescentando que "o jornalista não é protagonista". Protagonistas, para ele, são "sujeitos sociais que assumem o compromisso de agir e transformar". Ele também citou algumas críticas que o profissional recebe, como o fato de que seu trabalho não é importante, pois trata de fatos efêmeros. Chaparro rebateu a afirmação que, segundo ele, não tem fundamentos. "Jornalistas lidam com transformação".

Antes de tornar seu discurso mais uma das aulas conhecidas por todos os estudantes de jornalismo, capazes de acabar com o entusiasmo de qualquer calouro idealista e sedento por ser um agente de transformação, e não apenas um contador de histórias, o palestrante deu o seu aviso: "Jornalismo é uma obra de criação com a pretensão de transformar. O que produz a transformação não é o fato, mas o discurso contido no fato. O jornalista não só vê, mas atribui valor às coisas, dá significação aos fatos".

Segundo ele, a institucionalização do mundo fez com que as organizações percebessem o papel do jornalista e, assim, fizeram um "trabalho extraordinário para dar voz a seus protagonistas". Desse modo, essas associações foram capazes de conquistar um espaço na mídia. Agora, cabe ao jornalista dar voz e socializar os discursos daqueles que ainda estão excluídos dos veículos de comunicação, que, coincidentemente ou não, são também os excluídos em outros setores da sociedade, como os desempregados, os desabrigados e as minorias.

"O jornalista não se nutre só da atualidade", afirma Chaparro, "mas dos valores que a ordenação ética da sociedade estabeleceu como razões fundamentais das relações humanas". Outra dica do professor é a humanização, com a busca de fontes informais, além das fontes institucionais. "Nós temos que pensar nas pessoas. O jornalista trabalha para as pessoas, não para as instituições", conclui.

A última fala, se fosse o único acontecimento do dia, já teria bastado para fazer os 20 selecionados apreciarem um pouco mais a conquista da disputada vaga, e reiterassem a escolha certeira ao dispensarem esforços nas etapas de seleção e investirem no curso não só como formação complementar... A dose semanal de liberdade de criação e incentivo já se tornou essencial para impulsionar a busca pela produção de bons repórteres".
* Os trechos em itálico pertencem ao artigo 5º da Constituição.


"Um copo de lâmpada
Projeto Repórter do Futuro luta contra comodismo no jornalismo

Diego Junqueira

"Estou preso à vida e olho meus companheiros/ Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças/ ...O presente é tão grande, não nos afastemos/ Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas". O poeta Carlos Drummond de Andrade, no poema "Mãos dadas", conclama a união de todos para enfrentar as guerras cotidianas, a massificação do homem, o comodismo. Foi essa mesma lâmpada que se tentou reacender no primeiro dia do curso Repórter Futuro, promovido pela Oboré.

A chama escondida em cada estudante ali presente – repórteres principiantes, incomodados e acomodados – parecia quase apagada. Coube ao diretor da Oboré, Sérgio Gomes, a arrumação das cadeiras na sala. De cada uma delas, após as cargas de luz, saíam espinhos que incomodavam todos. Era preciso levantar dali, fazer alguma coisa. Mas não se sabia como.

O documentário "Vila Buarque: um ponto de cultura", dirigido por Dimas de Oliveira Jr., levou os repórteres às ruas de um bairro apagado do imaginário. Do centro depredado de São Paulo, surgiram artistas, praças, livros e os prédios, com seus paredões de concreto, aguardando os pintores para iluminarem suas imensas telas.

Os espinhos nas cadeiras incomodavam ainda mais os repórteres quando o professor Manuel Carlos Chaparro, um dos coordenadores do curso, causou o último chacoalhão da manhã. "Os protagonistas da transformação", "Os artistas da entrevista", dizia, a respeito do trabalho do jornalista. Chaparro sugeriu aos estudantes que lessem o Artigo 5º da Constituição Brasileira, que começa assim: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". A idéia era chamar atenção para uma nova exclusão surgida na sociedade, a exclusão discursiva. E convocava: "É o jornalista quem pode construir o discurso do excluído".

O bando de estudantes deixou a Oboré confuso e atônito. Alguns não sabiam pra onde ir, nem o que fazer. A claridade e o frenesi das ruas atrapalhavam. Os espinhos ainda doíam – mais nas idéias do que em qualquer outro lugar. "E agora, o que vocês vão fazer?" Era a última cutucada do Sérgio. E os estudantes se foram, juntos, mesmo sem rumo. "O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente", alertaria Drummond".


"O JORNALISMO E A TRANSFORMAÇÃO

Projeto Repórter do Futuro começa novo módulo

Mariana de Castro N. B. Morais

São quase dez horas de uma manhã de sábado e eu me encontro na região central da cidade de São Paulo (pertinho da Praça da República e do edifício Copan!) Parada em frente ao número 454 da rua Rego Freitas, respiro um pouco tentando diminuir a ansiedade antes de adentrar ao prédio e dizer ao porteiro:

- Eu vou na Oboré.

- Ah, sim. Pode subir.

O Boré é um instrumento tupi de comunicação usado para chamar a tribo dispersa para lutar. Cabe perfeitamente em uma empresa prestadora de serviços que se propõe trabalhar com o alternativo e o popular. Meu interesse ali é o Projeto Repórter do Futuro, um dos cursos de complementação universitária oferecidos pela Oboré projetos especiais em comunicação e artes.

Dentro do elevador, guardo o RG que precisei apresentar das outras duas vezes em que lá estive. Uma no encontro de confraternização e seleção para o novo módulo do projeto. A outra para entregar o cheque pós-datado, no valor de um salário mínimo, que cada aluno selecionado investe no curso. Para medir o empenho dos participantes, o projeto adota "o critério da reembolsa": o cheque será devolvido ao final do módulo se eu participar de todos os encontros, escrever uma matéria jornalística semanal sobre as atividades e conseguir publicar ao menos uma delas.

Ao meu lado no elevador está um rapaz que observo de soslaio. Vasculho os rostos guardados na minha memória do encontro de seleção dos candidatos. Não, não nos conhecemos. Pudera, era tanta gente! 170 de acordo com o e-mail que recebi informando que eu tinha conquistado uma das 20 vagas. Vaga que eu garanti com um texto no qual despejei toda a minha angústia com a utopia da vida descompromissada do sonho que se conforma, que diz não ter forças, que carece de poder. O que eu esperava encontrar ali é gente empenhada em construir "um outro jornalismo possível".

Ao entrar no espaço "Aloysio Biondi", me deparei com quase todas as cadeiras dispostas ao redor de uma mesa comprida ocupadas. Perscrutando os outros rostos jovens que ali lêem ou conversam animadamente, constato que não conheço ninguém. Mas, simpatizo com os olhares inquietos e que me pareceram tão ansiosos quanto o meu.

Na ponta da mesa oposta à qual me sentei, três cadeiras vazias. Atrás, numa faixa de pano, leio:

"PROJETO REPÓRTER DO FUTURO

Módulo Descobrir São Paulo – Descobrir-se Repórter

Realização: ABRAJI – ABI – Cátedra Unesco – Oboré"

Alguns minutos depois, as cadeiras foram ocupadas por três figuras, das quais duas eu já conhecia do encontro de seleção: os jornalistas Sergio Gomes (diretor da Oboré) e Ciro Pedroza (coordenador pedagógico do projeto). O terceiro elemento é o Prof. Manoel Carlos Chaparro, o palestrante da aula inaugural desse novo módulo do projeto.

Inicialmente, explicam a metodologia desenvolvida nesses 12 anos de existência do projeto: a cada sábado (num total de seis) teremos uma palestra seguida de entrevista coletiva com personalidades capazes de discutir os problemas da metrópole de São Paulo. Os problemas foram levantados em enquetes aplicadas em algumas das faculdades de jornalismo da cidade. Ficamos sabendo que, para este módulo, foram definidos 5 problemas: desigualdade social, transporte, violência, saúde e educação. Para falar a respeito foram convidados o Prof. Ricardo Amorim (junto com Marcio Pochmann, elabora o Atlas da exclusão social no Brasil), Frederico Bussinger (da secretaria municipal de transporte), Tenente Arruda (responsável pelo policiamento da zona leste de São Paulo), Adib Jatene (trabalhou na Secretaria da Saúde de São Paulo no anos 70, e foi ministro da saúde nos governos Collor e FHC) e Elci Pimenta (da Ouvidoria Geral da Prefeitura).

As matérias jornalísticas produzidas a partir das palestras/entrevistas serão avaliadas segundo critérios centrados na prática reflexiva e não simplesmente na aplicação de técnicas, explicam os coordenadores do módulo. Penso comigo que faz todo sentido, se considerarmos que o objetivo do projeto, expresso no site da Oboré (www.obore.com), é "responder ao anseio de muitos alunos e professores empenhados em conquistar outro padrão de qualidade e competência jornalísticas". Bate com o que escreveu o professor Manoel Carlos Chaparro num artigo do site Comunique-se - através do qual eu fiquei sabendo do curso: "O mais importante está na proposta do projeto, que usa uma pedagogia fundada no tripé "pensar+fazer=aprender", para compensar as precariedades dos cursos de jornalismo e ajudar a colocar, na prática profissional, jovens que ‘queiram ser jornalistas de verdade’. E tem tudo a ver com o que escreveu o jornalista André Azevedo da Fonseca no e-mail lido por Ciro Pedroza: "um dos princípios que mais mexeram comigo foi a própria atitude da OBORÉ, essa coisa meio punk, no sentido ‘faça você mesmo’, mas sem improvisação. O ensino de Jornalismo está deficiente? Vamos selecionar bons alunos e contribuir na formação dessa geração". André foi aluno do projeto repórter do futuro em 2003 e nos presenteou com exemplares de seu livro lançado pela editora Uniube: "Cotidianos culturais e outras histórias"

O jornalista Audáulio Dantas também mandou o seu "Repórteres" (editora Senac São Paulo). Passando os olhos pela apresentação do livro, de imediato um parágrafo me chamou a atenção: "Os jornalistas podem, em algumas funções, ser burocratas. Nunca, porém, quando escolhem o caminho da reportagem. ‘Repórter burocrata é impossível’, afirma José Hamilton Ribeiro, que viveu o inferno da guerra do Vietnã e de lá voltou sem um pedaço de seu corpo. Mas continua, como outros que contam suas histórias de repórteres e de reportagens neste livro, vasculhando os horizontes, insistindo em perguntar e em saber as coisas do mundo". É, acho que está quente.

Após a distribuição de presentes, os "repórteres do futuro" fomos divididos em duplas e incumbidos da tarefa de conhecer o novo amigo e depois apresentá-lo aos demais. Coincidentemente, o meu novo amigo é o rapaz que eu bisolhei no elevador.

- É a primeira das 3 etapas da metodologia doncovim? oncotô? e proncovô?.– brinca sério Sérgio Gomes.

Depois de devidamente apresentados, fico com a impressão de que viemos todos – não importa a faculdade: ECA/USP, Metodista, Mackenzie, PUC, FIAM ou Unesp – da insatisfação com o atual estado de coisas no mundo e da vontade de mudá-lo. E qual o papel do jornalismo nessa transformação? Qual o papel social do jornalista? Quais as razões e as limitações da atividade jornalística? Inevitavelmente, as questões pairavam por sobre a mesa. Tomariam corpo na apresentação do prof. Carlos Chaparro que apontou o proncovô.

Antes disso, assistimos o documentário "Vila Buarque, um ponto de Cultura" e me situei melhor no oncotô.O filme apresenta a história do bairro que surgiu no final do século XIX e hoje é considerado decadente, degradado e pouco atrativo para o setor imobiliário. Cortada ao meio pelo elevado Costa e Silva (o conhecido minhocão) a Vila conta atualmente com um projeto de revitalização coordenado pelas instituições de ensino, restaurantes e teatros sediados no bairro e que pretendem recuperar o glamour da antiga Broadway Paulista.

Foi comentando justamente os depoimentos do filme que Chaparro provocou a reflexão acerca da prática jornalística: O jornalismo se limita ao que os outros fazem e dizem. Se os protagonistas são outros, como é que fica o sonho de que podemos transformar o mundo?".

Na definição de Chaparro, o jornalismo atua no "espaço das produções discursivas", é uma "linguagem narradora que precisa de protagonistas" e, por isso, os jornalistas precisam, antes de tudo, ter humildade. Humildade para reconhecer que quem constrói os nossos conteúdos não somos nós e perceber que trabalhamos por e para as pessoas. Nossa tarefa é organizar e socializar os discursos de pessoas e instituições ("sujeitos sociais") que por alguma razão, ação ou produção têm a sua importância. Ou seja, narrar o que os outros dizem e fazem (daí a importância da entrevista como ferramenta).

Nem por isso o jornalismo lida com o efêmero. O acontecido (os fatos) não valem por si só. Eles têm materialidade, sim. Mas têm, principalmente, "causas, efeitos, contextos, significados. Valem pelas razões que os geraram, pela ação discursiva que contêm e pelas conseqüências que produzem ou podem produzir". Ao lidar com o potencial transformador das ações (e do discurso por trás delas), "o jornalista lida com a transformação".

Além disso, os fatos estão inseridos em cenários de conflito – "onde sujeitos sociais agem e interagem no mundo pela notícia do que fazem e dizem" – o que obriga o jornalismo à ação de atribuir valor às coisas que narra. O jornalista não é só aquele que vê. Os fatos não se mostram por si próprios, exigem exercícios de observação e interpretação. E "o que produz a transformação é justamente a significação contida no fato".

Nessa medida, "o jornalista de verdade" é aquele que associa fatos à idéias, acontecimentos à reflexões, relaciona o particular e o geral, desvenda o que está escondido na banalidade das aparências, elucida conflitos.

E para isso é preciso estar atento à exclusão discursiva, alerta o professor livre docente da USP: com a institucionalização da sociedade, o jornalismo se desumanizou. Diante de um mundo falante, "onde os sujeitos sociais se capacitaram e ocuparam o espaço da notícia, o jornalista", não pode (por preguiça intelectual) se limitar a ser mero reprodutor de discursos e decretar a morte da reportagem. Pelo contrário, é preciso investigar, questionar e informar. É preciso "dar voz a quem não consegue projetar seu eu nas discussões, estimular a formação de novos protagonistas".

No meu entender, o professor associa o jornalismo a um espaço de construção da cidadania em que os direitos e os deveres de cada indivíduo são preservados e defendidos. Por isso, sugere como fonte de critérios para a valoração dos fatos o artigo 5º da Constituição brasileira (que fala dos "direitos e deveres individuais e coletivos"). Mesmo que muito do que exista no mercado e se apresente como jornalismo tenha que ser jogado no lixo, e pouco do que concebemos e defendemos seja efetivamente praticado, o ideário ético é inseparável do jornalismo. A sociedade, como fonte de razões éticas, é a razão de ser do jornalismo e, "diferente da moral, é um sonho que tem um compromisso e uma lógica vinculados à transformação".

Para encerrar, cito mais um trecho da apresentação do livro organizado por Audáulio Dantas e que tem me fascinado com suas boas histórias: "De um bom repórter exige-se até uma certa dose de megalomania, na medida suficiente para que ele acredite, em momentos de exaltação, ser capaz de mudar o mundo. O diabo é que, às vezes, ele consegue"."

 
 
 
   
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